quarta-feira, 23 de julho de 2014

Deixa pra depois

 Por Jullyana B.



5 horas da manhã e a certeza de que nunca ia dar certo. Amarrotar os lençóis e afundar o rosto no travesseiro não vai trazer de volta a chance de fazer tudo diferente. Porque não importa o que você faça, o fim sempre será o mesmo. 

O destino, às vezes, escreve algumas histórias quando está de mau humor e quem se atreve à ser protagonista, sai com algumas cicatrizes no final. Nada muito difícil de ser curado, mas o tratamento é doloroso. Não dá pra esquecer os chutes que a vida te dá, nem os desvios que o amor faz. Lutar por uma causa perdida causa dor no coração e curto circuito na mente. Ter que esquecer e ao mesmo tempo querer lembrar, muitas vezes, é motivo para algumas doses de tequila. Mas tequila não resolve nada, só soma mais dores ao corpo – afinal, ninguém merece uma ressaca.

Mas e a ressaca de amor? Aquele dia seguinte ao dia em que tudo deu errado. Você rola na cama para não acordar e quando acorda, não tem coragem de se levantar porque sabe que vai doer. Vai doer lá no fundo, quando você caminhar descalça pela casa e não achar a camisa dele jogada no chão do corredor. Vai doer quando você respirar e perceber que o oxigênio não tem tanta graça sem o cheiro dele. Vai doer quando você perceber que o que te machuca, é o que te cura. Mas deixa pra depois.

Deixa ele viver e criar asas. Crie asas também. Afinal, o perfume dele nunca combinou com o seu e você sabe que você não suportava aquelas roupas espalhadas pela casa. Apesar do amor e dos sorrisos trocados, sua garganta sempre arranhava quando te perguntavam: “vão casar quando?”. Você sabe que ele é lindo, mas amor não se faz de beleza. Você sabe que se doou por inteiro, mas 100% nem sempre é o suficiente. Não era pra ser ou você que deixou de ser? Não importa. É hora de dizer adeus. Ou até mais.

Deixa ele ir. E vai também. Às vezes, caminhos diferentes levam para o mesmo lugar.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Não era você

Por Jullyana B.





Foi naquele olhar cruzado que eu me peguei pensando no fim. Como dizer adeus à alguém que você amou e te completou por anos? E como driblar o clichê de que todo amor verdadeiro tem que ser eterno?

Não era ele. Por mais homem que ele fosse, não era o homem da minha vida (se é que isso existe). Ou pelo menos não era mais o homem daquele momento. E buscar as palavras certas e efêmeras para dizer isso a ele me sufocava. Porque o que vivemos foi real e porque negar tudo isso seria loucura.

Porque você lia minha alma e eu lia seus olhos, e juntos líamos livros e poesias a noite toda. Porque você deslizava suas mãos sobre meu corpo e seus dedos se entrelaçavam no meu cabelo me fazendo dormir. Porque sua conchinha era minha proteção nas madrugadas frias e seu beijo na testa era meu primeiro “bom dia”. Porque suas ligações eram certas e te ver era a solução pra minha angústia. Porque você estava aqui o tempo todo, mas não deveria estar.

Nunca quis te partir o coração. Histórias de amor continuam sendo histórias de amor, mesmo que não sejam infinitas. Perceber à tempo que algo te faz bem, mas não te faz completa, e usar um ponto final ao invés de três, é difícil. É difícil porque você se acomoda. No fundo, você quer o cafuné de todas as noites e o conforto de ser só de alguém. A ideia de um coração batendo por você soa como conto de fadas. Porém, a realidade é outra.

O comodismo de um relacionamento não pode ser substituto do amor. Nem sempre o fim será com armas e canhões. Com palavras brutas soltas ao ar e fotos rasgadas. Às vezes, o fim é calmo. Pacífico. Como deve ser. De repente você sente que aquela peça do seu quebra-cabeça, antes encaixada, precisa se soltar um pouco e mudar de forma. E a nova forma não se encaixa mais na antiga. E você acorda, numa manhã de domingo, e percebe que é feliz, mas não é completa. E que você pode ser feliz sozinha. E você sai como a vilã da história, a mulher-cruel-que-maltratou-o-bom-moço. Mas esta mulher cruel foi extremamente corajosa em abrir mão da certeza de um carinho no fim do dia pela incerteza da vida. Abriu mão, porque apesar do amor recebido, não havia sinal de amor enviado. E a vida segue.

Moço, só te peço uma coisa: não feche seu coração. Deixe as cortinas abertas para que o sol entre, mas tome cuidado com os furacões. Minhas lembranças são pra sempre, mesmo que nós dois não tenhamos sido.

Dizem por aí que eu fui o furacão dele. Que passei e levei tudo. Que deixei uma bagunça. Que seja, então.

Prazer, Katrina.